As árvores com "olhos" |
Por Levi Jucá.
O espírito
investigativo do Jovem Explorador esteve mais presente do que nunca durante a nossa
estadia na China, em dezembro de 2016. A viagem, em si, já significava uma
experiência incrível. Saímos de Pacoti até o outro lado do mundo para
participar da Be The Change (BTC), conferência do movimento global Design For Change
que, no Brasil, é representado pelo Criativos da Escola (Instituto Alana – SP),
cujo Desafio conquistamos em 2015. Além da grande oportunidade de compartilhar
nosso projeto junto a crianças, jovens e educadores critativos de todo o mundo,
nada passava despercebido de nossa curiosidade multiplicada pelo choque
cultural que experimentamos a cada instante daqueles dias inesquecíveis.
Ao chegarmos na
Daystar Academy, escola que sediou o
evento em Pequim (Beijing), as árvores que circundavam seus muros chamavam
bastante a atenção. Não pelo verde das folhas, inexistente naquele período de
inverno abaixo de zero (- 3º C), mas pelo aspecto curioso dos caules finos,
esbranquiçados e, com olhos! Sim! Marcas escuras (de galhos já caídos) cujos
desenhos, sem exceção, simulam olhos humanos. Nos dias seguintes, em passeios
pela cidade, notamos que essa espécie era muito utilizada na arborização urbana,
reinando com larga vantagem nas calçadas, canteiros, praças e bosques.
Muitos "olhares" no entorno da escola e em toda Pequim. |
Desde então não
esperei por sair perguntando qual o nome daquela planta aos organizadores do
evento, estudantes e, principalmente, para o nosso intérprete (que era chinês!).
E, para minha surpresa, ninguém sabia responder. Faziam cara de dúvida, olhavam
e respondiam algo assim: “Como eu não sei disso?!”. Qualquer semelhança com o
que também ocorre por aqui não seria mera coincidência. Afinal, tudo o que nos
parece comum, aquilo que com que nos deparamos rotineiramente, não desperta
importância, nosso olhar. É exatamente para esse fato que alertamos e
discutimos no curso das atividades de pesquisa do Ecomuseu.
Foi por tudo
isso que, três dias depois, tive uma ideia para resolver o caso. Convoquei uma
chinesa para ser jovem exploradora por um dia, desafiando-a a descobrir não
apenas o nome da árvore (científico e popular), mas sua história (algo me dizia
que aqueles olhos guardavam uma lenda, mito...). A escolhida foi a simpática
Wei Yun (fala-se “Uêi Ouâm”), acadêmica de língua inglesa e orientadora voluntária
responsável por nossa delegação brasileira. Ela topou responder um questionário que
elaborei em inglês sobre a planta misteriosa e foi à campo pesquisar!
"The Challenge" sobre o mistério da Árvore com Olhos! |
Transcrevo e
traduzo, a seguir, o que ela me devolveu ao final do dia:
Nome
Popular: 白桦树 (Baihua Shu = bétula ou vidoeiro branco)
Nome
Científico: Betula platyphylla
História:
na antiga China, havia uma menina que
estava sempre à procura de um amante. Depois que ela morreu, ela tornou-se uma
árvore com os olhos para continuar a procurar seu amante para sempre. A Bétula
é a árvore nacional da Rússia, representando o espírito nacional de vitalidade.
Wei Yun, a jovem exploradora chinesa que aceitou o desafio! |
Resolvido o problema,
procuramos saber mais. Coincidentemente, uma variação de seu nome científico
seria Betula pendula, cujo termo de “espécie”
é o mesmo de Parkia pendula, nosso
visgueiro, símbolo do Ecomuseu de Pacoti. Também conhecida como bétula branca
japonesa ou bétula de prata da Sibéria, pode ser encontrada em outros lugares
temperados da Ásia como Japão, Coréia e Sibéria, alcançando entre 20 a 30 metros
de altura. Sua casca é amplamente comercializada para fins medicinais (desintoxicação,
antitussivo, diarréia aguda e crônica, asma, etc.), nas práticas tradicionais do Oriente.
A exemplo da velha lenda, estamos sempre em busca: pelo amor ao conhecimento! Provando que
somos jovens exploradores (e educadores) aqui e até na China, registramos a sensível experiência de se deixar levar, literalmente, pelo misterioso olhar de uma
árvore...