sábado, 9 de abril de 2016

Doce Natureza: Na Trilha das Abelhas Nativas

A narrativa a seguir foi escrita pelo professor Levi Jucá, licenciado em História pela Universidade Federal do Ceará - UFC e coordenador do projeto Jovem Explorador e o Ecomuseu, em Pacoti - Ceará.

"Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana". (Albert Einstein)

Abelhas "Canudo" (Scaptotrigona depilis), visitando a flor do maracujá!
Meliponário da Vila São João - Pacoti - CE

Por Levi Jucá.
26 de Março de 2016.
Preocupada com o atual quadro de desaparecimento gradativo das abelhas no mundo por diversos fatores (desmatamento, agrotóxicos, plantações de transgênicos, etc.), a Seção Zoológica da Comissão Científica do Jovem Explorador começou a pensar possíveis ações para a discussão e promoção desse tema junto à comunidade. Em postagens nas redes sociais, temos alertado para a importância desses seres fundamentais para a manutenção da vegetação natural e cultivada, através da polinização. No entanto, a maioria da população desconhece a existência e o valor das nossas abelhas "nativas", "brasileiras", "indígenas" ou "sem-ferrão" (Gêneros: Melipona, Trigona...).

Uruçu-amarela (Melipona mondury) e seus "potes de mel".
Meliponário do Laécio - Sítio Rolador - Pacoti - CE

Essas "nossas abelhas" são bem diferentes das abelhas exóticas, isto é, estrangeiras, como é o caso da abelha "italiana" (Apis mellifera) trazida da Europa no século XVIII por padres jesuítas que visavam a produção de cera para o fabrico de velas! Resistentes, hoje estão espalhadas por todo o Brasil, inclusive impactando sobre a vida das nativas. São as mais conhecidas da apicultura, pela grande produtividade de mel (o que mais se consome comercialmente), e as mais temidas pelo seu "ferrão". De certa forma, contribuem para o "preconceito" de muita gente acerca do tema, achando que lidar com abelhas é tarefa arriscada, esquecendo que as espécies brasileiras não possuem ferrão, ou melhor, são atrofiados.


Meliponário do Sr. Antonio Martins
Sítio Bananal - Pernambuquinho - Guaramiranga - CE

Em grande parte inofensivas, há muito são domesticadas em caixotes ou cortiços naturais geralmente nos beirais dos telhados das casas de serra e sertão, podendo ser criadas, até mesmo, em grandes cidades! Meu primeiro contato com essas abelhas se deu em 2008, quando morei na Vila São João, residência de grandes amigos em Pacoti, construída em 1932 e com linda fachada neoclássica. Lá, penduradas nos alpendres, estão as colmeias que compõem seu meliponário.

Prof. Levi Jucá e jovem exploradora Josemara Barbosa -
Fachada Neoclássica da Vila São João - Pacoti - CE.

Colmeias / Cortiços Tradicionais - Vila S. João - Pacoti - CE.

O Brasil possui mais de 3.000 espécies de abelhas, sendo boa parte de abelhas nativas sem ferrão. Os nomes são muitos: URUÇU, CANUDO, JANDAÍRA, JATÍ, LIMÃO, IRAÍ, MANDAÇAIA MOSQUITO, JATAÍ, ARAPUÁ, MOÇA-BRANCA, CAGA-FOGO, MOMBUCÃO, e tantas outras... Quem não lembra o trecho da canção Morena Tropicana, de Alceu Valença, que diz: "Saliva doce, doce mel, mel de uruçu"? Um mel bem clarinho e fininho por ser mais aquoso. Comprovadamente mais eficiente em termos medicinais por suas propriedades antibióticas, segundo aponta o livro "Vida e criação das abelhas indígenas sem-ferrão", ideal para quem quer entender melhor o assunto, da autoria de Paulo Nogueira-Neto. Para baixar o livro, gratuitamente, clique aqui.

Meliponário do Laécio - Sítio Rolador - Pacoti - CE

O primeiro passo desse trabalho liderado pelo Jovem Explorador e o Ecomuseu vem sendo o reconhecimento e estudo sobre as espécies nativas que ocorrem na região da Serra de Baturité - CE, assim como a realização de um mapeamento dos "meliponicultores" que herdaram a tradição de criar abelhas em casa, em cortiços e colmeias tradicionais. No último 26 de março, na sede do Ecomuseu de Pacoti, inserida no espaço do Campus Experimental de Educação Ambiental e Ecologia da Universidade Estadual do Ceará - UECE, nossa grande parceira, recebemos com alegria e gratidão a visita do grande mestre Luiz Wilson Lima-Verde.

Visita de Lima-Verde ao Ecomuseu de Pacoti - CE.

Engenheiro agrônomo da Universidade Federal do Ceará - UFC, botânico taxonomista, Lima-Verde também é Doutor em Zootecnia (UFC) com a tese intitulada "RECURSOS MELISSOFAUNÍSTICOS DO MACIÇO DE BATURITÉ, CEARÁ, BRASIL – DIVERSIDADE E
POTENCIALIDADE ZOOTÉCNICA". Ninguém mais indicado, pois, para tratar de abelhas conosco, em especial aquelas existentes em nosso território, durante uma manhã de formação.

Lima-Verde apresentando colmeia racional
modelo INPA.

Após essa aula incrível, fomos presenteados por Lima-Verde com as primeiras colmeias em modelo racional moderno (modelo INPA - Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) que em breve implantaremos na área externa do Ecomuseu de Pacoti, pela defesa de uma "natureza doce", saudável e equilibrada!

Jovens Exploradores no Meliponário do Sr. Antonio Martins.
Cultive uma colmeia de abelhas nativas sem ferrão em seu jardim! Mas, como todo animal silvestre, é preciso respeitar sua biologia, entender suas necessidades e a legislação. Só assim podemos admirar e preservar estes maravilhosos polinizadores!